Do sofrimento ao renascimento, escritora caxiense relata todos os tipos de violência que sofreu e antecedem a agressão às mulheres
- Nael Rosa
- 17 de mai.
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Atualizado: há 4 horas
Foto: divulgação

A imagem que abre esta reportagem é de um rosto belo, inclusive, para uma mulher de 48 anos. Mas o batom da cor bordô ou até marrom, e que amplia os traços atraentes de quem o usa, mas que, poderia ser vermelho, nem sempre foi permitido integrar sua maquiagem, sendo um dos tantos gatilhos, mesmo que pontuais, que sintetizaram a violência psicológica e todas as demais em torno não só do machismo, mas, do narcisismo no sentido real disso, imensamente nocivo a qualquer relação, principalmente, a conjugal.
“Certa vez, a mãe dele me deu um batom vermelho. Ele pôs no chão e destruiu, pisou várias vezes até nada sobrar, com o argumento que, mulher dele não usaria aquele tipo de coisa”.
Esse é apenas um dos tantos relatos contidos no livro “Minha Vida Após o Ex”, em que Beloni Pietrovski, ou simplesmente, a Bela, relata sua saga e os tantos dramas que envolveram um casamento de 22 anos, relação que deixou nela marcas profundas em todos os sentidos e que, ainda hoje, a mantém à busca de sarar as feridas no corpo, alma e coração.
“Quando falamos ou ouvimos sobre violência contra um indivíduo, entre estes, as mulheres, imediatamente nos remetemos à agressão física, pois esta, todos: amigos, parentes, vizinhos, a svociedade como um todo, está vendo, já que está estampada de várias formas. Mas há outras tão danosas quanto: a psicológica, a afetiva e a financeira e, por mais de duas décadas, eu sofri todas estas dentro da minha casa”, revela agora, a profissional da beleza estética.
Em sua obra, que já está à venda nas plataformas digitais (Homart Markettplace), mas que será ampliada e aprimorada para migrar para o físico, Bela afirma que perdeu o direito de escolha de sua própria vida e, devido à época não haver ou darem tantas informações quanto ao assunto como hoje é possível, foi proibida de usar determinados tipos de roupas, mesmo que nunca tenha mantido consigo, por ser de família conservadora, hábitos de trajar peças sedutoras.
“No sentido real da palavra, quem me fez entender que era narcisismo, foi uma psicóloga antes atuante em uma delegacia que lidava com situações que envolviam essa natureza, (violência doméstica). Meu ex é extremamente narcisista, na totalidade dos comportamentos. Começa com muita sedução, palavras que te iludem, te adoçam. Resumindo: tudo vem disfarçado de amor”, mas, a seguir, começam as agressões verbais”, descreve a escritora, que conclui o resumo de como foi o "agir" que a levou para o fundo do poço.
“É como se, seguidas vezes, ele me colocasse, em um dia de muito calor, ao lado de uma piscina refrescante, maravilhosa, mas, por eu não saber nadar, me levou para o interior desta e, pouco a pouco, foi me afundando, afundando e, quem não sabe nadar? Morre aos poucos!”
Ela adiciona: “quando eu reclamava de uma situação, ele tratava de mudar o comportamento, me elevando ao topo e isso era maravilhoso. Então, eu me iludia, pensava: tudo vai mudar, vou continuar a relação, tem os filhos, etc., etc... Mas, na semana seguinte, o ciclo de abusos recomeçava, chegando a um ponto em que eu não queria mais sair do fundo da piscina, não queria mais viver”.
Nas palavras da escritora, na prática, os tantos atos de maldade resultaram em doenças, internações e cirurgias: “ninguém passa por tudo isso sem sequelas. Cheguei a pesar 115 quilos, perdi minha referência. Passei a ter crises fortes de ansiedade, fui submetida a cinco cirurgias, nove internações, desenvolvi dismorfia corporal e, mesmo após perder 30 quilos, enfartei. Em suma: adoeci mental e fisicamente”, relembra.
Beloni disse que o homem que havia escolhido para viver, foi responsável ainda pela falência financeira total da família, pois a deixou com dívidas que envolveram muitos aluguéis atrasados e que, repetidas vezes, como ambos trabalhavam como vendedores e ganhavam principalmente por comissão, houve meses em que nada teve a receber, ao ponto do então chefe, um dia indagar: “Bela, você acredita em Papai Noel?” Se crê, é porque tens esperanças de que ele poderá mudar um dia!”.
Na mente, outro episódio que sintetiza a ausência total de empatia, algo comum aos narcisistas: “nosso filho tinha quase dois anos e teve uma convulsão. Não tínhamos carro. O acordei para levarmos rapidamente ao hospital que ficava, do local onde morávamos, uns 900 metros morro acima. Ele se recusou a ajudar, alegando que tinha que trabalhar no dia seguinte. O peguei nos braços, com ele percorri o tal morro e lá (hospital), fiquei com nosso pequeno até o final da manhã. Para minha surpresa, quando chegamos em casa, o pai dele dormia, pois havia ligado para o patrão para justificar que naquele dia não iria trabalhar porque o filho estava doente”.
Ao finalizar o resumo dos episódios dramáticos, uma vez que a narrativa se concentrou apenas em uma parte dos relatos contundentes e maldosos, ela revelou que, certa vez se deparou com a fatura de seu cartão de crédito e nesta continha o gasto feito em um Cabaré. O então marido havia mantido relações sexuais com uma prostituta e usou o cartão da esposa para pagar a profissional.
“Lembro que, naquele dia, eu quis morrer. Em lágrimas, cai aos pés da cama, já que ele colocou a culpa pela traição, em mim”.
O renascimento:
Mesmo diante de tanta dor, ela precisou ser Fênix, renascer do "nada" que restava. Divorciou-se, foi à busca de capacitação, retomou sua minha vida, abriu sua estética, o que a permite reorganizar sua vida financeira e, para tal, foi essencial livrar-se do então parceiro, já que, por repetidas oportunidades, ao perceber que a união teria um fim, ele fazia movimentos que tiravam as finanças do buraco, mas, logo ali, lá estava ela cobrindo um novo rombo que ele havia novamente aberto.
“Como é normal a portadores dessa patologia, o mundo gira em torno deles. Mesmo assim, me libertei, tanto que, neste 16 de maio, completou um ano que não tomo mais qualquer tipo de antibiótico, o que, em virtude de ter ficado com minha imunidade extremamente baixa, necessitei ao ponto de ter uma infecção generalizada que me vou para a UTI”.
Ao finalizar, Bela faz duas observações, sendo uma, que considera crucial e direcionada inclusive, à figura masculina: “é preciso ficar claro que não estou me voltando contra o sexo masculino, pois todo ser humano tem um papel importante na vida de seu semelhante. Mas escrevi o livro e vou ampliá-lo, assim ele sairá das trinta e poucas páginas que tem para outras tantas, para que as mulheres tenham mais conteúdo a consumir, bem como, a chance de se aprofundar no assunto e, com isso, condições de identificar situações e comportamentos, antes de começarem relações saudáveis em suas vidas, ou fugarem das mesmas ao constatarem que estas poderão ser nocivas”.
“Mas quero concluir dando uma dica que para mim é relevante e funciona para os dois gêneros: “se você olhar nos olhos de seu parceiro ou parceira, e disser: veja, a maneira como você tem falado comigo tem me ferido muito. Se ele ou ela te disser: "me desculpe, vou tentar mudar”, é porque se importa com você. Mas quando aquele ou aquela que deveria te amar, te proteger, ouve essas palavras e te diz: "Isso é frescura, falta do que fazer”, é porque acabou”.
Reportagem: Nael Rosa
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